
Foto de Ricardo Paulouro
Natural da Covilhã (1947), Manuel da Silva Ramos tem-se afirmado, cada vez mais, no panorama literário português. Se começou por estudar Direito, cedo percebeu que era na Literatura que assentava a sua vida. As contingências políticas que se viviam na época em Portugal levaram-no a exilar-se em França, mas nem assim Manuel da Silva Ramos deixou de escrever. Muito pelo contrário, em 1968 ganhou o Prémio da Novelística Almeida Garrett com "Os Três Seios de Novélia". A partir daí, seguiram-se títulos, em parceria com o recentemente falecido Alface, como: "Os Lusíadas" (1977), "As Noites Brancas do Papa Negro" (1982) e "Beijinhos". O regresso, em 1997, a Portugal deveu-se também ao facto de ter ganho uma Bolsa de Criação Literária atribuída pelo Ministério da Cultura, um reconhecimento nacional que, inexplicavelmente, foi desaparecendo. Entre outras obras, destaque, com recomendação de leitura, para "Café Montalto"(2003), "Ambulância" (2006) e "O Sol da Meia-Noite seguido de Contos para a Juventude" (2007), os seus três últimos livros com a chancela da Dom Quixote que comprovam a perícia, a criatividade, o humor aliado a uma escrita próxima do quotidiano mas, simultaneamente, apelando à imaginação de cada leitor. 2007 é um ano 'forte' para MSR que agora nos brinda com o romance "A Ponte Submersa" (Dom Quixote), uma história que recria os homícidios de três jovens que ocorreram entre 2005/2006, em Santa Comba Dão. Anabela, Suzana e Júlia são as protagonistas, juntamente com o Cabo Pá. Um olhar crítico sobre as forças do poder. Aqui fica um excerto para aguçar a curiosidade.
Cheguei à pensão Sicília já era noite. Depois de ter arrumado as malas no quarto singelado desci para jantar. Na pequena sala, castamente familiar, de uma intimidade que roçava a promiscuidade mas que eu gazuava com delícia por ter vivido alguns anos desumanos no estrangeiro, já com vários convivas ensurdecidos por uma sopa hipnótica, arranjei um lugar perto do fogão a lenha e não longe do armário castanho de cerejeira com fruta em cima. Ia eu num frango delicioso de fricassé quando a cara do proprietário passando com um bolo de noiva me relembrou o passado. Eu viera aqui para relatar para fichas o funeral do Salazar em 1970, como Observador Internacional dos Direitos do Homem.
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