
A ciência resolve problemas, mas nada resolve o Problema. Escrever é descobrir que para certas coisas a ciência é inútil, que a poesia vive dessa inutilidade, e que só por isso é preciso continuar a escrever.
Eduardo Prado Coelho
Eduardo Prado Coelho
Cruzei-me várias vezes com o Professor Eduardo Prado Coelho. Logo aos 18 anos, quando iniciei os meus estudos na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, o seu nome era sempre referenciado em todas as bibliografias de estudo. Os seus ensaios, sobretudo sobre poesia portuguesa contemporânea, eram referências incontornáveis, luzes sobre os textos que abriam novos caminhos à interpretação. O homem que conhecia apenas pelas palavras cruzou-se comigo várias vezes na cidade de Lisboa. Encontrei-o em livrarias, em alguns cafés, em muitos lançamentos de livros, ou nas ruas de Lisboa. Sempre as palavras pelo meio. Há cerca de quatro anos liguei-lhe com um convite: apresentar, no bar de jazz do Bairro Alto - Catacumbas, o quarto número de uma revista que se tentava afirmar no panorama editorial, Textos e Pretextos. Encontrámo-nos na Universidade Nova e a sua simplicidade motivou uma conversa aberta e descomprometida de formalismos. O tema da revista era do seu agrado - O Silêncio - e o espírito do projecto também. "Há que mostrar que o futuro da academia são os mais novos. Que também eles conseguem liderar projectos de grande qualidade", disse-me, num tom que misturava o ensinamento com a esperança na verdade das suas palavras. Trocámos ainda algumas impressões e notei como um tema como o silêncio o atraía e, simultaneamente, intrigava. O Professor Prado Coelho encheu naquela noite no Bairro Alto o pequeno espaço do bar. Atrás dele seguia um grupo de admiradores ou alunos que, por falta de espaço, se sentaram prontamente no chão, apenas para o ouvirem falar. Outras ocasiões se seguiram em que nos encontrámos profissionalmente. Em todas elas a minha certeza reafirmou-se: Eduardo Prado Coelho é um homem de palavras. E utilizo o presente do verbo propositadamente. Quem descobre o valor da palavra e a sua poesia encontra também o sentido da existência.
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